sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Tão Tarde Até Que Arde

Eram brincadeiras do relógio. Se pudesse soar algo, além do tic tac contínuo na noite, seriam risadas. Sempre depois das onze. Se olhasse pro analógico, os ponteiros estariam formando um sorriso torto, de lado, apontando pra onde os olhos não enxergavam, mas onde a mente via. Lembrou do gato, e dos caminhos caducos; do Rei e da Lua; das estrelas com cheiro de mato; dos pássaros e da casa sozinha.
O sorriso só surgiu ao lembrar do gosto azedo e gelado, de que nunca se lembraria de um jeito só. A cada passeio de idéias, sabia que mais um detalhe escaparia. E sabia mais ainda que sorriria como Alice, quando lembrasse. O pior era saber que Alice volta pra casa no fim.
E o corpo amolecia, e a boca se enchia com gosto de céu. Marshmellow, jujuba e marrom glacê. O relógio brincava, enquanto os olhos quase fechavam. Deixou de sorrir.
Hora de dormir.

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